As usinas solares Extremadura I-II-III da ACCIONA Energia permitiram a descoberta – e proteção – do sítio arqueológico Cortijo Lobato, onde se encontraram mais de três mil anos de história, da Idade do Cobre ao Império romano. Esta reportagem fala sobre isso.
Marcus Flavius sentiu o som da chuva na armadura e o barro úmido do chão em seu rosto; sua mente voltou às noites chuvosas em que sua mãe o protegia do ruído dos trovões na distante Trácia. “Júpiter está furioso”, murmurava baixinho enquanto o levantava em seus joelhos. O soldado da Legião VII Gemina havia saído em patrulha na tarde anterior com uma ideia fixa: ao cair da noite, deixaria seu regimento. Ele tinha ouvido rumores de que o imperador Aureliano estava prestes a enviar um destacamento para lutar na distante Palmira.
Na escuridão, o legionário partiu rapidamente, equipado apenas com um punhal de ferro e um loculus, uma espécie de mochila na qual guardava um pouco de pão sem fermento. Marcus Flavius mal tinha tido tempo de avançar uma légua quando ouviu vozes de alarme atrás dele no acampamento. Se ele não escapasse, o estaria aguardando o fustuarium, a execução reservada aos desertores. No dia seguinte, choveu.
Quase dois milênios depois, um grupo de arqueólogos começou a escavar o solo calcário de uma colina perto do município de Almendralejo, na Extremadura (Espanha). Em seguida, encontraram os restos de um esqueleto masculino com um pugio, o punhal dos legionários, como ornamento. O corpo, datado entre os séculos II e III d. C., foi enterrado com o rosto para baixo, talvez como um sinal de desonra, em uma cova rasa, indicando um sepultamento rápido.
Como foi parar lá? Era um legionário executado? Desertou? Nós o batizamos de Marcus Flavius, mas, na verdade, sua história é um enigma. Essa foi a enésima surpresa que tiveram no sítio arqueológico de Cortijo Lobato. Juntamente com os técnicos da ACCIONA Energia, a equipe de arqueólogos estava tocando a superfície de uma das maiores descobertas das últimas décadas.
A arqueologia é a história que se constrói a partir de vestígios tangíveis preservados ao longo do tempo. Ainda não sabemos o que esse corpo estava fazendo no meio de uma jazida muito mais antiga, mas sabemos que seus restos provavelmente não teriam visto a luz do dia se não fosse pela instalação do complexo fotovoltaico Extremadura I-II-III da ACCIONA Energia, localizado no município de Almendralejo.
Neste artigo, contamos como as energias renováveis e a pesquisa arqueológica estão caminhando lado a lado em uma colaboração pioneira que respeita o legado de nossos ancestrais e, ao mesmo tempo, garante o futuro de nossos descendentes.
"O complexo fotovoltaico Extremadura I-II-III da ACCIONA é a origem de uma das maiores descobertas arqueológicas das últimas décadas."
A Península Ibérica é caracterizada por uma abundância de vestígios arqueológicos. Começando por Atapuerca, logo as fortificações árabes, passando pelos dólmens neolíticos, a necrópole do enigmático Tartessos, os bustos ibéricos ou os anfiteatros romanos, todos esses povos e civilizações deixaram sua marca.
No entanto, em poucos lugares há vestígios de períodos tão diferentes como os que foram descobertos em Cortijo Lobato. Especificamente, foram encontrados restos de povoadores de 2800 a.C. até o século V d.C. Em outras palavras, a Idade do Cobre (ou Calcolítico), a Idade do Bronze, a Idade do Ferro e o Baixo Império Romano. Todos eles de diferentes períodos, mas todos no mesmo espaço: o complexo fotovoltaico Extremadura I-II-III, onde coexistem com 11 jazidas.
"Em Cortijo Lobato foram descobertos um assentamento fortificado do terceiro milênio a.C. e uma tumba romana do II-III d.C."
Quando, em 1º de março de 2021, como parte das pesquisas preliminares para Extremadura III, importantes vestígios de atividade humana pré-histórica começaram a ser identificados, iniciamos contatos com a Direção Geral de Patrimônio Cultural do Governo Regional da Extremadura. O objetivo era localizar, delimitar e proteger as áreas e buscar possíveis formas de colaboração que permitissem a construção da instalação fotovoltaica.
A arqueologia moderna é uma disciplina muito cara em termos de recursos financeiros, de tempo e humanos, o que significa que o trabalho de pesquisa precisa ser selecionado e, muitas vezes, adiado. Uma das formas de superar esse obstáculo é a colaboração entre empresas e setor público. E esse foi o rumo que decidimos tomar.
"A preservação deste patrimônio tem sido uma prioridade desde o início. Contratamos uma empresa de arqueologia e trabalhamos em colaboração com as autoridades regionais para garantir que as margens do local não fossem afetadas", afirma Mikel Ortiz de Latierro, diretor de Meio Ambiente, Social, Saúde e Segurança, e Qualidade da ACCIONA Energia.
A arqueóloga Montserrat Girón, da empresa TERA S.L., que coordena os trabalhos de escavação no local, afirma que se trata de um “enorme desafio” por parte da ACCIONA Energia, que inclui a participação de uma equipe de cerca de quinze especialistas em arqueologia, como parte de seu compromisso com a pesquisa do conjunto arqueológico. Os trabalhos já começaram e continuarão nos próximos anos.
Os arqueólogos enfatizam que o mais interessante do sítio de Cortijo Lobato e do complexo fotovoltaico é a sobreposição de diferentes períodos em um só lugar. Entretanto, além da abundância de vestígios como peças de tear, restos de pratos, pontas de flechas de sílex, cinzéis e machados de pedra, bem como elementos ornamentais e religiosos feitos de ardósia, é impressionante a estrutura do assentamento.
São os vestígios de um recinto com três muralhas concêntricas e quatro fossos escavados na rocha que correspondem a uma fortaleza do Calcolítico. É o que se conhece como um recinto com fosso. E é também o local onde um possível legionário enterrado em circunstâncias singulares apareceu repentinamente; um romano “infiltrado” na Idade do Cobre.
Em seu auge, as muralhas da fortaleza totalizavam quinhentos e cinquenta metros de comprimento e eram delimitadas por vinte e cinco torres. Além disso, seus fossos tinham mais de dois metros de profundidade. Qual era a razão para esse propósito defensivo?
A península havia se tornado um celeiro fértil, incipientemente para os povos neolíticos e depois totalmente consolidada para os romanos, mas, no final do terceiro milênio a.C., uma grave seca limitou muito a produção agrícola. Tanto que foi necessário erguer grandes fortificações para proteger as plantações de trigo e cevada, legumes como lentilhas e, possivelmente, oliveiras e videiras. Aqueles povoadores também tiveram que enfrentar sua própria emergência climática.
A consolidação da agricultura e, principalmente, o surgimento da metalurgia, especificamente os utensílios de cobre, colocam o Calcolítico em uma posição crucial para o desenvolvimento do que viria a ser as sociedades modernas. Por esse motivo, o sítio de Cortijo Lobato tem uma importância específica no contexto arqueológico espanhol, juntamente com outros grandes assentamentos calcolíticos, como o impressionante assentamento Los Millares, em Almeria.
Estes assentamentos, com cinco milênios de idade, nos contam algumas das primeiras organizações sociais complexas. Cortijo Lobato nos conduz desde esse momento fundacional até uma sociedade tão evoluída como a romana. As escavações atuais no parque fotovoltaico da ACCIONA Energia estão apenas começando, mas certamente nos ajudarão a desvendar alguns dos enigmas desses ancestrais pré-históricos e seu lugar no tempo.
Para se ter uma ideia da magnitude da usina solar onde está localizado o sítio Cortijo Lobato, basta imaginar que, no total, seus três campos fornecem 125 MW de energia renovável, um número equivalente ao consumo anual de mais de sessenta e cinco mil famílias. Paralelamente, as áreas que precisam de proteção arqueológica no interior da usina foram sendo ampliadas à medida que a construção avançava para trinta e cinco hectares.
E neste ponto entra a questão do equilíbrio entre fornecimento de energia renovável e a preservação arqueológica. “Tivemos que modificar o projeto como uma espécie de ‘Tetris’ para adaptar a configuração dos painéis às diferentes áreas do sítio”, explica Jenifer Andreu, responsável de Meio Ambiente da ACCIONA Energia. E conclui: “No final, conseguimos preservar a capacidade de geração de energia elétrica em sua totalidade e, ao mesmo tempo, proteger todas as áreas de interesse arqueológico que foram descobertas”.
"Conseguimos preservar a capacidade de geração de energia elétrica e proteger todas as áreas de interesse arqueológico que foram descobertas"
Ainda é muito cedo para saber que rumo as escavações arqueológicas tomarão. Que outros vestígios serão descobertos nos próximos anos? Sé há uma certeza: está é uma oportunidade histórica de aprender mais sobre nossas origens e descobrir o destino de nossos ancestrais em sua transição histórica e climática.
Na ACCIONA, estamos apoiando este sítio como parte de nosso compromisso de proteger o patrimônio cultural dos lugares onde desenvolvemos nossos projetos, de acordo com a estrutura de uma economia mais sustentável. E isso nos leva à descoberta com a qual este artigo começou. “A ideia de encontrar um dia esse punhal de ferro romano milenar em um museu, e pensar que foi graças ao trabalho da ACCIONA Energia, é muito emocionante”, concluiu Andreu.
"Encontrar esse punhal romano milenar em um museu e pensar que foi graças ao trabalho da ACCIONA Energia é emocionante"
A ACCIONA Energia está envolvida no maior desafio fotovoltaico desenvolvido em seus 30 anos no setor renovável: construir Usinas Solares nos Estados Unidos com uma capacidade combinada equivalente à de uma usina nuclear, com mais de dois milhões de painéis em uma superfície total equivalente à de mais de 1.600 campos de futebol. Se tudo nos EUA é grande, o compromisso da empresa é totalmente made in USA.
